Por Ronaldo Mendonça *
Começou nesta terça-feira o Fórum "É arte? Carnaval faz parte!", idealizado e coordenado por Marcos Roza, historiador, pioneiro pesquisador de enredos do carnaval do Rio de Janeiro e diretor cultural da Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso. Conforme previsto pelos organizadores, duas mesas foram formadas onde os temas centrais foram a segurança, administração e gestão no Carnaval.
Na abertura, o pianista Mauro Jackson interpretou um pout-pourri de peças de Noel Rosa, Cartola e Ary Barroso. Finalizou com "Escovado", de Ernesto Nazareth, dando uma ideia musical, segundo ele, de como eram comemorados os carnavais no final do século XIX.
Começam os diálogos
Foto: Ricardo Almeida (Tradição do Samba)
Na primeira mesa, que tratava da Administração e Gestão de Carnaval, muitos convidados. Além da Mediadora, Claudia Silva, que é Assessora de Comunicação da RioTur, participaram o diretor de carnaval da LIESA, Elmo José dos Santos (à dir), o presidente da CAPEMISA, José Augusto da Costa Tatagiba (à esq.), Mario Roberto José de Oliveira, vice-presidente de comunicação da AESCRJ, Rita Fernandes, da SEBASTIANA e Luiz Fernando Vieira (centro), professor e gestor de Carnaval. Um pouco mais tarde, juntaram-se à mesa Paulo de Almeida, presidente do Conselho Fiscal da LESGA e Edson Marcos, diretor de Carnaval da LESGA.
Foram abordados temas relevantes para a preparação e o andamento dos dias de carnaval em vários locais, não só na Marquês de Sapucaí.
Ao comentar esse aspecto, Mário Roberto informou que não foram relatados quaisquer problemas relativos à violência nos desfiles da Av. Intendente Magalhães, em Campinho, onde desfilam as escolas dos grupos 2, 3 e 4.
Elmo dos Santos ressaltou os aspectos históricos que envolvem a conscientização da necessidade de haver administração da folia. "Cada um (agremiação) tratava de si. Com a evolução dos desfiles ou as agremiações se uniam ou todas morreriam. A Mangueira deu o primeiro passo e desenvolveu um trabalho social, cuidando da comunidade", disse o diretor. Elmo declarou ainda que a História é aprendida também no Carnaval através dos enredos, sendo cantada e divulgada para os foliões.
A mídia vem divulgando o crescimento do interesse pelos desfiles do grupo de acesso. Entretanto, Paulo de Almeida não concordou. "Não é esse mar de rosas. É preciso que se fale em buscarmos alternativas de solução para a ausência do Estado no carnaval". Nos últimos anos têm sido destinados R$ 12 milhões para as escolas do grupo de acesso, o que na opinião do presidente do Conselho Fiscal da LESGA é muito pouco. Apesar disso, Paulo reconhece o crescimento refletido no interesse das emissoras de TV em realizarem a transmissão. Crescimento que se reflete na venda rápida dos ingressos para o sábado de Carnaval e que poderia se traduzir em maiores dividendos para as agremiações. As vendas de frisas e camarotes, sob as exigências do ministério Público, também foram duramente criticadas pelo ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro.
Foto: Ricardo Almeida
A atuação dos blocos e a ideia da prefeitura de viabilizar algo como "corredores promocionais" para o circuito dos blocos no Rio de Janeiro também foi discutida. A presidente da Associação de Blocos Sebastiana, Rita Fernandes, contou que seu interesse pelos blocos se deu por perceber nos pequenos blocos o aumento do interesse das pessoas em querer ficar no Rio para participar do Carnaval e não mais sair da cidade para brincar em outro lugar. Quanto à proposta da prefeitura, Rita confessa que a primeira reação foi a de preocupação. Inicialmente, o que foi pedido pela Sebastiana e outros grupos de blocos foi a ajuda do Poder Público para organização do circuito por onde passam as centenas de blocos nos dias de folia. Diminuição do número de ambulantes, melhoria da sinalização e disponibilidade de banheiros químicos foram alguns ítens pedidos à prefeitura. Entretanto, a seu ver, se vingar a proposta de haver patrocínio único para tais circuitos, corremos o risco de ter no carnaval de rua do Rio de Janeiro uma nova Bahia, perdendo sua espontaneidade. "Já existem até alguns vendendo camisas como se fossem abadás", declarou.
Ao final, Claudia Silva informou que será elaborado pela prefeitura um roteiro dos blocos para o Carnaval 2010. A expectativa é que mais turistas se interessem pelo carnaval de rua, além dos desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí. "Os dois carnavais se completam", completou Rita Fernandes.
Da dir. p/esq.: Elmo dos Santos, Coronel Celso, Edson, Jaime,
Prestes, Marcos Roza e Lilia Gutman. Foto: Ricardo Almeida
Segurança no carnaval: um desafio
Da segunda mesa de debates, mediada por Luis Carlos Prestes Filho, participaram Jaime Cezário, carnavalesco da Mangueira, Coronel Celso, responsável pela operação de segurança na Marquês de Sapucaí e o diretor de carnaval da Lesga, Edson Marcos.
"Não podemos olhar os investimentos em Carnaval como antigamente", declarou Prestes, dando início ao debate. Ele ressaltou que, exatamente por isso (e ao contrário do que tinha sido falado na mesa anterior), o Carnaval é um acontecimento que mobiliza as três esferas de governo (municipal, estadual e federal), especialmente da prefeitura, que está diretamente ligada ao espaço em que se comemoram os dias de folia. Ele citou várias vezes que o fluxo econômico do Carnaval está na ordem de R$ 1 bilhão por ano, atualmente.
Coronel Celso, que foi bastante aplaudido, colocou itens como educação e sensibilidade humana como pilares para a segurança. Sem elas, o trabalho fica bastante dificultado. Ele contou que no passado, a Polícia Militar é quem fazia a recepção dos foliões na Passarela do Samba. Hoje ela é feita por jovens (alguns bilíngues e/ou trilíngues) treinados para orientar o folião, especialmente o turista, quanto ao local onde se acomodará, por exemplo. Os avanços são tamanhos que, hoje em dia, já existem até JECRIM's (Junta Especial Criminal) para julgamento de ocorrências tidas como leves. Os juízes de plantão julgam a causa e, dali, os envolvidos podem ser condenados a pagamento de cestas básicas ou serviços comunitários ou mesmo serem levados para delegacias ou penitenciárias.
Jaime questionou a capacidade que outra empresa teria para conduzir a organização do carnaval na Avenida, que não fosse a Liesa. "Qual empresa poderia realizar o evento com esse know-how?", perguntou Jaime. Ele falou também da questão da segurança para quem vai desfilar no Sambódromo e relacionou problemas comuns que as escolas encontram na concentração, especialmente nas imediações do edifício "Balança mas não cai", rua paralela à direita da Marquês de Sapucaí.
Edson Marcos falou da preocupação da Liesa não só com os foliões visíveis nas alas e nos carros alegóricos, mas também com os empurradores de carros, por exemplo. Eles são acompanhados por profissionais treinados para qualquer acidente. Além disso, a Liesa divulga um caderno de segurança com todos os detalhes para que as escolas façam um trabalho correto e não incorram em erros que possam vir a prejudicar a elas mesmas no dia do desfile como usar adereços proibidos ou sair do barracão com um carro mais alto do que 5,5 metros.
Também foi ressaltado no fórum que não há briga de torcida no carnaval, como lamentavelmente existe no futebol. Existe a euforia de ver a sua escola passar. Porém, quando ela se vai e outra chega, há uma observação e um respeito em relação à essa outra agremiação que está desfilando.
Foto: Ricardo Almeida
Coronel Celso comentou que, apesar de todo o aparato policial que existe nesses dias, é impossível haver 100% de segurança. Grande aglomeração e a esperteza dos malfeitores são alguns fatores que dificultam a ação da polícia. Foi relatado um grupo de assaltantes atuando em um determinado ponto e fugindo para ruas atrás do Sambódromo. Lá, eles tiravam a camisa que vestiam para despistarem as autoridades. Isso porque eles vestiam três, quatro camisas, tornando difícil a identificação. O Coronel garantiu que as autoridades estão cientes da prática e estão prontos para coibí-la.
Luis Carlos Prestes finalizou o encontro declarando que deveria ter consultado os participantes da mesa antes do lançamento de seu livro, "Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval". Coronel Celso tratou de consolá-lo, ante o riso da plateia: "não tem problema, tem a 2ª edição"...
Nesta quarta-feira, 16/12, o fórum continua com mais três mesas:
“Escola de Samba: do terreiro à passarela” - 14h
“Arquitetos do Carnaval” - 16h
“A Beleza na Dança do Samba” - 18h
Sala Sidney Miller - Funarte
Rua da Imprensa, 16 - Centro - Esquina com Rua Araújo Porto Alegre
* Aluno da disciplina Cobertura Jornalística de Grandes Eventos, UCAM - Campus Tijuca.
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Da segunda mesa de debates, mediada por Luis Carlos Prestes Filho, participaram Jaime Cezário, carnavalesco da Mangueira, Coronel Celso, responsável pela operação de segurança na Marquês de Sapucaí e o diretor de carnaval da Lesga, Edson Marcos.
"Não podemos olhar os investimentos em Carnaval como antigamente", declarou Prestes, dando início ao debate. Ele ressaltou que, exatamente por isso (e ao contrário do que tinha sido falado na mesa anterior), o Carnaval é um acontecimento que mobiliza as três esferas de governo (municipal, estadual e federal), especialmente da prefeitura, que está diretamente ligada ao espaço em que se comemoram os dias de folia. Ele citou várias vezes que o fluxo econômico do Carnaval está na ordem de R$ 1 bilhão por ano, atualmente.
Coronel Celso, que foi bastante aplaudido, colocou itens como educação e sensibilidade humana como pilares para a segurança. Sem elas, o trabalho fica bastante dificultado. Ele contou que no passado, a Polícia Militar é quem fazia a recepção dos foliões na Passarela do Samba. Hoje ela é feita por jovens (alguns bilíngues e/ou trilíngues) treinados para orientar o folião, especialmente o turista, quanto ao local onde se acomodará, por exemplo. Os avanços são tamanhos que, hoje em dia, já existem até JECRIM's (Junta Especial Criminal) para julgamento de ocorrências tidas como leves. Os juízes de plantão julgam a causa e, dali, os envolvidos podem ser condenados a pagamento de cestas básicas ou serviços comunitários ou mesmo serem levados para delegacias ou penitenciárias.
Jaime questionou a capacidade que outra empresa teria para conduzir a organização do carnaval na Avenida, que não fosse a Liesa. "Qual empresa poderia realizar o evento com esse know-how?", perguntou Jaime. Ele falou também da questão da segurança para quem vai desfilar no Sambódromo e relacionou problemas comuns que as escolas encontram na concentração, especialmente nas imediações do edifício "Balança mas não cai", rua paralela à direita da Marquês de Sapucaí.
Edson Marcos falou da preocupação da Liesa não só com os foliões visíveis nas alas e nos carros alegóricos, mas também com os empurradores de carros, por exemplo. Eles são acompanhados por profissionais treinados para qualquer acidente. Além disso, a Liesa divulga um caderno de segurança com todos os detalhes para que as escolas façam um trabalho correto e não incorram em erros que possam vir a prejudicar a elas mesmas no dia do desfile como usar adereços proibidos ou sair do barracão com um carro mais alto do que 5,5 metros.
Também foi ressaltado no fórum que não há briga de torcida no carnaval, como lamentavelmente existe no futebol. Existe a euforia de ver a sua escola passar. Porém, quando ela se vai e outra chega, há uma observação e um respeito em relação à essa outra agremiação que está desfilando.
Foto: Ricardo Almeida
Coronel Celso comentou que, apesar de todo o aparato policial que existe nesses dias, é impossível haver 100% de segurança. Grande aglomeração e a esperteza dos malfeitores são alguns fatores que dificultam a ação da polícia. Foi relatado um grupo de assaltantes atuando em um determinado ponto e fugindo para ruas atrás do Sambódromo. Lá, eles tiravam a camisa que vestiam para despistarem as autoridades. Isso porque eles vestiam três, quatro camisas, tornando difícil a identificação. O Coronel garantiu que as autoridades estão cientes da prática e estão prontos para coibí-la.
Luis Carlos Prestes finalizou o encontro declarando que deveria ter consultado os participantes da mesa antes do lançamento de seu livro, "Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval". Coronel Celso tratou de consolá-lo, ante o riso da plateia: "não tem problema, tem a 2ª edição"...
Nesta quarta-feira, 16/12, o fórum continua com mais três mesas:
“Escola de Samba: do terreiro à passarela” - 14h
“Arquitetos do Carnaval” - 16h
“A Beleza na Dança do Samba” - 18h
Sala Sidney Miller - Funarte
Rua da Imprensa, 16 - Centro - Esquina com Rua Araújo Porto Alegre
* Aluno da disciplina Cobertura Jornalística de Grandes Eventos, UCAM - Campus Tijuca.
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